Os cortes no orçamento, o novo IOF e o PIB: o que mudou na economia brasileira após a crise


Os últimos meses foram marcados por uma sucessão de decisões econômicas do governo federal que, em vez de sinalizarem uma estratégia sólida para o enfrentamento dos desafios fiscais, expuseram a fragilidade do planejamento e a falta de visão de longo prazo. Entre cortes orçamentários, aumento de impostos e indicadores de crescimento econômico aquém do necessário, o saldo para a economia e para a sociedade é, no mínimo, preocupante.
Cortes no orçamento: ajuste fiscal ou medida paliativa?
O anúncio do congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento de 2025 foi apresentado como uma resposta à necessidade de cumprimento da meta de déficit fiscal zero 2, 4, 5. No entanto, a medida decepcionou analistas, que esperavam um ajuste bem menor, em torno de R$ 10 bilhões 2. O governo optou por um contingenciamento de R$ 20,7 bilhões e um bloqueio temporário de R$ 10,6 bilhões, atingindo principalmente gastos não obrigatórios — ou seja, áreas como investimentos, ciência, cultura e políticas públicas que já sofrem com subfinanciamento 4, 5.
A crítica central é que o governo, ao invés de enfrentar as verdadeiras pressões sobre as contas públicas — como a rigidez dos gastos obrigatórios e a falta de reformas estruturais —, preferiu atacar o pouco espaço que resta para políticas discricionárias. Essa estratégia, longe de resolver o problema, apenas posterga decisões difíceis e compromete a capacidade do Estado de investir em áreas essenciais para o desenvolvimento e a inclusão social 4.
O novo IOF: mais impostos, menos crescimento
A elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) foi outro ponto de inflexão na política econômica recente. O governo justificou a medida como necessária para reforçar a arrecadação e cumprir as metas fiscais 3, 5, 8. A expectativa era de uma receita extra de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026 8. No entanto, a reação do mercado foi imediata e negativa: o aumento do imposto atingiu operações de crédito, investimentos no exterior, dólar e até planos de aposentadoria, elevando o custo de transações e desestimulando investidores 8.
A pressão foi tamanha que o governo recuou parcialmente, revogando o aumento do IOF sobre fundos no exterior após críticas do mercado e divisões internas 2, 6. Esse vaivém reforça a percepção de improviso e falta de coordenação, além de criar insegurança jurídica e inibir investimentos produtivos, especialmente num momento em que o país precisa de previsibilidade para crescer.
Especialistas apontam que o aumento do IOF é especialmente nocivo para pequenas e médias empresas, que já enfrentam dificuldades de acesso ao crédito em um ambiente de juros elevados. O encarecimento do capital pode restringir ainda mais a atividade econômica, dificultando contratações e investimentos 4, 7. Em vez de estimular o empreendedorismo, o governo optou por criar mais barreiras, prejudicando justamente quem gera riqueza e empregos.
PIB e perspectivas: um crescimento insuficiente
O pano de fundo dessas medidas é uma economia que já dá sinais de desaceleração. O próprio governo projeta um crescimento do PIB de apenas 2,3% em 2025, abaixo dos cerca de 3% registrados nos anos anteriores 7. O aumento de impostos e o corte de investimentos públicos apenas reforçam esse cenário, restringindo o potencial de expansão do país.
Além disso, a dívida bruta do governo geral atingiu 75,9% do PIB em março de 2025, acendendo um alerta para o risco de dominância fiscal — quando o Banco Central perde capacidade de controlar a inflação porque o ajuste fiscal não é feito pelo lado das despesas, mas sim pelo aumento de impostos e pela elevação dos juros 7. O resultado pode ser uma espiral de inflação, juros altos e baixo crescimento, cenário que o Brasil já conhece bem e que deveria ser evitado a todo custo.
Falta de estratégia e sinais tropeçados
O que se observa é um governo que, diante do desafio fiscal, opta por soluções de curto prazo e de baixo impacto estrutural. O aumento do IOF foi escolhido justamente por não exigir negociação com o Congresso, mas a facilidade de implementação não compensa os efeitos negativos sobre o ambiente de negócios e sobre a confiança dos agentes econômicos 7. O corte de gastos discricionários, por sua vez, é a alternativa mais fácil — e menos eficaz — para quem não quer enfrentar o debate sobre a qualidade e a rigidez do gasto público.
A sucessão de anúncios, recuos e ajustes reforça a imagem de um governo reativo, que age sob pressão e sem clareza de prioridades. O mercado, os investidores e a sociedade precisam de previsibilidade, de um plano consistente para o equilíbrio das contas públicas e para o estímulo ao crescimento sustentável. Medidas paliativas e improvisadas apenas aprofundam a crise de confiança e reduzem o espaço para uma recuperação robusta.
Conclusão: oportunidade perdida
O episódio dos cortes no orçamento e do novo IOF escancarou a falta de estratégia do governo para enfrentar os desafios fiscais e econômicos do país. Em vez de liderar um debate sério sobre a modernização do Estado, a revisão de gastos obrigatórios e a criação de um ambiente favorável ao investimento, o governo preferiu aumentar impostos e cortar investimentos essenciais. O resultado é uma economia mais fraca, um setor produtivo desestimulado e uma sociedade cada vez mais descrente na capacidade do Estado de promover o desenvolvimento.
Se não houver uma guinada real na condução da política econômica, com reformas estruturais e compromisso com o crescimento de longo prazo, o Brasil corre o risco de repetir os erros do passado — e perder mais uma década para o improviso e a mediocridade fiscal.
Citações:
- https://noticias.uol.com.br/colunas/pra-comecar-a-semana/2025/05/25/apos-crise-do-iof-governo-detalha-cortes-no-orcamento-e-divulga-pib.htm
- https://www.estadao.com.br/economia/governo-anuncia-contencao-31-bi-orcamento/
- https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/05/22/ajustes-orcamento-2025.htm
- https://monitormercantil.com.br/governo-congela-r-313-bi-do-orcamento-de-2025/
- https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/governo-anuncia-congelamento-de-r-313-bi-no-orcamento/
- https://www.gazetadopovo.com.br/economia/recuo-sobre-iof-pode-gerar-mais-cortes-no-orcamento/
- https://www.seudinheiro.com/2025/economia/entenda-por-que-as-mudancas-no-iof-foram-tao-mal-recebidas-pelo-mercado-e-como-elas-podem-impactar-a-inflacao-e-a-economia-do-brasil-paty/
- https://neofeed.com.br/poder/tem-um-aumento-de-iof-no-meio-do-caminho-do-corte-de-gastos-do-governo/
- https://www.cnnbrasil.com.br/economia/financas/aumento-do-iof-veja-como-mudancas-impactam-o-bolso-e-gastos-no-dia-a-dia/
- https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/05/22/governo-anuncia-bloqueio-de-r-313-bilhoes-no-orcamento-de-2025.ghtml