Lula: “traficantes são vítimas dos usuários de drogas”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gerou intensa controvérsia ao afirmar, durante uma coletiva de imprensa em Jacarta, Indonésia, que “traficantes são vítimas dos usuários” de drogas. A declaração foi feita na última sexta-feira (24), em resposta a perguntas sobre a ofensiva militar do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o narcotráfico em países da América Latina. A fala teve rápida repercussão nacional e internacional, especialmente entre congressistas e lideranças que atuam na segurança pública, reacendendo o debate sobre a responsabilidade no combate às drogas e os rumos da política antidrogas do governo brasileiro. bbc+2

Origem da declaração

Durante a coletiva, Lula destacou que “toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente, os usuários. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”. O presidente afirmou, ainda, que existe uma relação comercial em que “alguém vende porque tem quem compre, e alguém compra porque tem quem venda”, sugerindo um ciclo vicioso sustentado tanto pela demanda quanto pela oferta. globo+2

A fala de Lula se deu ao ser questionado sobre os métodos de combate adotados por Trump, que defendeu ataques militares extraterritoriais a grupos vinculados ao narcotráfico, como na Venezuela. Sem mencionar Trump diretamente, Lula criticou operações militares letais e executórios sumários, defendendo que líderes devem agir com responsabilidade e respeito à soberania dos países. Segundo Lula, não se pode “invadir, que vai combater o narcotráfico na terra dos outros, sem levar em conta a Constituição dos outros países”. cnnbrasil+1

Repercussão e críticas

A declaração foi imediatamente explorada por parlamentares da oposição, como Ciro Nogueira, Nikolas Ferreira e Sóstenes Cavalcante, que acusaram Lula de “passar pano para o crime” e inverter responsabilidades morais na crise da segurança pública brasileira. Sóstenes, líder do PL na Câmara, afirmou que “o homem que governa o país defende quem destrói famílias, quem enche os cemitérios e espalha violência nas ruas”—uma retórica que reflete a crescente instrumentalização eleitoral da pauta da segurança. veja.abril+1

O episódio não apenas forneceu “munição” para opositores, mas também gerou perplexidade entre especialistas do setor, que consideram a fala incompatível com o fortalecimento de políticas públicas de repressão ao narcotráfico e combate ao crime organizado. Nas redes sociais, a repercussão foi amplamente negativa, com a frase “traficantes são vítimas dos usuários” tornando-se rapidamente tema dos principais trending topics, motivos de memes, críticas e protestos digitais. veja.abril+1

A retratação de Lula

Diante da forte reação e do desgaste causado, Lula buscou se retratar publicamente no mesmo dia, pela rede social X (antigo Twitter). O presidente declarou: “Fiz uma frase mal colocada nesta quinta e quero dizer que meu posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado. Mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando, como é o caso da maior operação da história contra o crime organizado, o encaminhamento ao Congresso da PEC da Segurança Pública e os recordes na apreensão de drogas no país. Continuaremos firmes no enfrentamento ao tráfico de drogas e ao crime organizado”. globo+2

Em sua mensagem de retratação, Lula enfatizou iniciativas já implementadas pelo Executivo, como operações de repressão ao PCC e o reforço do arcabouço legal de combate ao narcotráfico, tentando reconduzir o debate para o terreno dos resultados e da atuação prática do governo.

Análise crítica

A declaração do presidente expõe ao escrutínio o viés frequentemente paternalista de parte do discurso político brasileiro em relação ao tráfico. Ao inverter o eixo da responsabilidade, Lula erra o alvo do debate sobre as causas e soluções para o crime organizado, transmitindo a imagem de um governo leniente, em um momento de aumento da pressão popular por segurança e rigor legal. Ainda que tenha agido rapidamente para corrigir a narrativa, o dano político revela a fragilidade da comunicação presidencial e ilustra como frases infelizes podem ser instrumentalizadas no contexto de polarização, colocando em xeque a credibilidade das políticas públicas e evidenciando o abismo entre discurso e prática. veja.abril+2

Assessoria Cidadão Alerta

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