Justiça social de palanque: governo expande isenção do IR, preserva privilégios, enquanto recusa cortar gastos

O pronunciamento de Lula sobre combate a privilégios e justiça social, ancorado na nova isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil, é um bom exemplo de como um governo pode misturar medidas reais com uma narrativa carregada de falácias e simplificações convenientes. Ele veste uma decisão tributária pontual com o figurino de “revolução social”, enquanto evita discutir com clareza quem paga a conta e quais são os limites fiscais dessa agenda. veja.abril+7

A primeira falácia é a construção de um antagonismo absoluto entre “povo” e “elite”, como se todo contribuinte de baixa renda fosse explorado e todo contribuinte de alta renda fosse um privilegiado que nunca pagou imposto de verdade. Lula afirma que, por mais de 100 anos, uma pequena elite teria mantido um “privilégio vergonhoso” de pagar menos IR que trabalhadores, como se a estrutura tributária brasileira tivesse sido desenhada exclusivamente para proteger milionários e punir assalariados, ignorando o peso brutal dos impostos indiretos que atingem justamente o consumo dos mais pobres – algo que seu próprio partido nunca resolveu em décadas de poder. jovempan+5

A segunda falácia está na forma como a isenção é apresentada: a medida é real, ampliando a faixa livre de IR e reduzindo imposto para rendas até algo em torno de R$ 7.350, mas o discurso omite o essencial – renúncia fiscal em larga escala exige compensação concreta, não apenas slogans sobre “taxar super-ricos”. O governo fala em tributar cerca de 140 mil pessoas com renda anual acima de R$ 1 milhão, cobrando até 10% efetivos, como se isso fosse suficiente para equilibrar contas públicas estruturadas sobre um déficit crônico, forte expansão de gastos obrigatórios e juros elevados. A narrativa sugere um jogo de soma zero (“tira da elite, dá para a base”), quando, na prática, o risco é empurrar o ajuste para consumo, empresas e inflação futura. bpmoney+6

Há também uma falácia de enquadramento moral: ao associar a isenção do IR a programas como Bolsa Família, Pé de Meia, Luz do Povo e Gás do Povo, Lula tenta vender a ideia de que qualquer questionamento à medida tributária equivale a ser contra justiça social ou contra os pobres. Assim, quem critica o impacto fiscal, a falta de corte de gastos ou a ausência de reforma profunda vira, automaticamente, defensor de “privilégios da elite”, o que mata o debate técnico e reforça a polarização identitária que interessa ao PT. otempo+7

Outra distorção está no timing e no meio: a um ano das eleições municipais e a dois anos da presidencial, o governo usa cadeia nacional para um anúncio que é, ao mesmo tempo, medida de política pública e peça de marketing político – falando “por cima” do Congresso, direto ao eleitor-contribuinte. O tom não é de prestação de contas técnica, mas de campanha permanente: a elite perde, o povo ganha, e o mediador benevolente é o presidente que “corrige injustiças históricas”. gov+9

Por fim, a retórica de combate a privilégios esconde o fato de que o próprio governo mantém e amplia benefícios e gastos para corporações estatais, emendas parlamentares e setores aliados no Congresso, o que relativiza a narrativa de guerra frontal contra privilégios. Em resumo, a medida de isenção pode ter méritos pontuais, mas o pacote discursivo que a cerca é desenhado para simplificar um problema fiscal complexo, transformar qualquer crítica em defesa da elite e reposicionar Lula como campeão da justiça social sem enfrentar de verdade o custo político de uma reforma tributária séria. poder360+8

Assessoria Cidadão Alerta

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