O enigma das negociações de paz: o que realmente quer o Kremlin na Ucrânia?

A guerra na Ucrânia se arrasta pelo terceiro ano consecutivo, provocando destruição, crises humanitárias e um rearranjo das alianças geopolíticas globais. Em meio a este cenário, uma declaração vinda de Moscou reacendeu as discussões sobre uma eventual trégua: Vladimir Putin estaria disposto a negociar a paz, mas com uma condição clara — a Rússia quer primeiro alcançar seus objetivos militares na Ucrânia 1 2 3.

Vladimir Putin e a Retórica da Paz

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, o Presidente Vladimir Putin “sempre manifestou desejo de chegar a uma solução pacífica para o conflito o quanto antes. No entanto, o mais importante para nós é atingir nossos objetivos. Eles são claros” 1 2. O discurso é repetido incessantemente pela liderança russa: existe disposição ao diálogo, mas sem abrir mão do que chamam de “interesses estratégicos”.

Na prática, isso implica manter o controle sobre áreas já ocupadas e garantir que a Ucrânia jamais se junte à OTAN, além de buscar o alívio das sanções impostas pelo Ocidente 4 5. Para Moscou, abrir mão desses pontos é inaceitável — são a base de sua estratégia desde o início da invasão em 2022.

Contexto das Negociações

Ao longo do conflito, houve tentativas de negociação, a mais significativa delas mediada pela Turquia em 2022. Na época, a proposta russa incluía o reconhecimento internacional das áreas anexadas, neutralidade militar da Ucrânia e o fim de sanções. Kiev rejeitou, pois isso significaria admitir perda de território e autonomia em política externa 4 6.

Recentemente, com a intensificação dos ataques e uma nova rodada militar em curso, a Ucrânia voltou a propor um novo ciclo de negociações. Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, declarou que está pronto para conversar diretamente com Putin, reforçando que “tudo deve ser feito pela busca do cessar-fogo” 7 8. Entretanto, a Rússia permanece inflexível: diálogos só ocorrerão se seus objetivos principais forem garantidos previamente 1 3 5.

Pressões Externas e Nova Dinâmica

O debate ganhou contornos ainda mais complexos após recentes intervenções dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump, pressionando por uma resolução rápida, deu à Rússia um prazo de 50 dias para aceitar um cessar-fogo, ameaçando com sanções ainda mais severas caso Moscou recuse. Enquanto isso, aumentam os envios de armamentos para Kiev, potencializando a escalada militar e dificultando avanços nas tratativas de paz 1 2 9.

A própria União Europeia, representada pela chefe da diplomacia Kaja Kallas, afirmou que “a Rússia está jogando, tentando ganhar tempo, e não quer negociar de fato”, refletindo o ceticismo na Europa sobre as verdadeiras intenções do Kremlin 10.

Os Objetivos Militares Russos

Mas afinal, o que Moscou considera “objetivos claros” e inegociáveis? Entre eles, destacam-se:

Reconhecimento internacional das regiões ocupadas (Donetsk, Luhansk, Kherson, Zaporizhzhia e Crimeia) como territórios russos;
Garantia de que a Ucrânia jamais fará parte da OTAN;
Fim de todos os embargos e sanções econômicas impostas pelo Ocidente 4 5 11.

Por sua vez, Kiev insiste na retirada total das tropas russas, punição aos responsáveis por crimes de guerra, retorno de prisioneiros e crianças deportadas, além de garantias de segurança para evitar futuras invasões 4.

Perspectivas: Paz Real ou Manobra Estratégica?

Apesar da retórica “aberta ao diálogo”, analistas apontam que a postura do Kremlin visa antes pressionar por concessões enquanto continua avançando militarmente 6. Conversar sem cessar-fogo permite à Rússia tentar melhorar sua posição no campo de batalha, enquanto projeta uma imagem de razoabilidade ao restante do mundo 3 6.

Em última análise, a insistência russa em manter seus objetivos como pré-condição para negociar sugere que a paz ainda está distante. O cenário permanece tenso, com ambos os lados apostando em estratégias de desgaste e contando com o apoio — ou pressão — das potências globais.

Sem mudanças substanciais de postura, a comunidade internacional assiste, perplexa, à mais longa e sangrenta guerra europeia desde 1945. A incógnita permanece: quando, e sob quais termos, poderá finalmente surgir uma paz duradoura na Ucrânia?

NEWS LETTER

Assessoria Cidadão Alerta

Referências:

https://kyivindependent.com/ukraine-proposes-new-round-of-peace-talks-with-russia-next-week/

O enigma das negociações de paz: o que realmente quer o Kremlin na Ucrânia?

A função da Cidadão Alerta

navegação