Brasil deve registrar déficit fiscal recorde em 2025 mesmo com alta arrecadação

O Brasil caminha para encerrar 2025 com um dos maiores déficits fiscais de sua história recente, apesar da forte recuperação das receitas tributárias. De acordo com dados do Tesouro Nacional, as contas do governo federal registraram um déficit primário de R$ 59,1 bilhões em julho, o segundo pior resultado para o mês desde o início da série histórica em 1997, ficando atrás apenas do acumulado durante a pandemia em 2020.globo

Entre janeiro e julho, o resultado primário acumulado ficou negativo em R$ 44,5 bilhões, o que representa 0,61% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar disso, o governo mantém a meta de alcançar déficit zero até o fim do ano, conforme previsto no novo arcabouço fiscal — um objetivo cada vez mais desafiador diante do avanço das despesas obrigatórias e dos pagamentos de precatórios.globo

Receita recorde, mas insuficiente

Mesmo com o crescimento expressivo da arrecadação federal, o aumento das receitas não tem sido suficiente para cobrir o avanço dos gastos públicos. Dados da Receita Federal indicam que, até agosto de 2025, o total arrecadado atingiu R$ 1,89 trilhão, o maior valor da série histórica, representando um crescimento real de 3,73% em relação a 2024. O desempenho vigoroso é resultado da tributação de novos setores, como apostas esportivas e fundos exclusivos, além do retorno de tributos sobre combustíveis.globo+1

No entanto, os efeitos dessa alta arrecadação foram neutralizados pela expansão das despesas do governo. Em julho, os pagamentos de precatórios somaram R$ 35,6 bilhões, pressionando fortemente o resultado fiscal. As despesas totais no mês atingiram R$ 260,3 bilhões — alta real de 28,3% em relação a julho de 2024.globo

Despesas em ritmo acelerado

A trajetória das contas públicas revela que o gasto público cresce continuamente acima da capacidade de financiamento do Estado. Projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI) apontam para um “estrangulamento fiscal sem precedentes”, com o duplo efeito de juros altos e baixo espaço para investimentos. Em nota técnica recente, a IFI alertou que tanto a arrecadação quanto o endividamento “dão claros sinais de esgotamento” e defendeu um novo pacto entre União, estados e municípios para equilibrar as contas.cnnbrasil

Os números confirmam que o governo enfrenta dificuldades em conter o avanço de despesas obrigatórias, como benefícios previdenciários, folha de pagamento e custeio administrativo. Economistas avaliam que o contingenciamento de R$ 31,3 bilhões anunciado pelo Ministério da Fazenda em 2025 tem impacto limitado sobre o resultado agregado.

Dívida pública crescente e risco fiscal

O alerta mais grave vem do comportamento da dívida pública federal, que atingiu R$ 8,145 trilhões em agosto — equivalente a cerca de 77,6% do PIB — e deve continuar crescendo até ultrapassar 82% em 2026. Segundo o relatório da IFI, estabilizar esse indicador exigiria um superávit primário de 2,1% do PIB — patamar distante da realidade atual.infomoney

O diretor-executivo da IFI, Marcus Pestana, afirmou que a política de trocar “gasto presente por dívida futura” precisa considerar os efeitos sobre as próximas gerações. Em suas palavras, “o céu não é o limite para o gasto público, e há restrições que cedo ou tarde precisarão ser enfrentadas”.infomoney+1

Com o déficit persistente, a escalada da dívida e o aumento das despesas obrigatórias, analistas preveem que o Brasil tende a encerrar 2025 com desequilíbrio fiscal superior ao estimado no início do ano, reforçando a necessidade de uma correção de rota para evitar perdas de credibilidade e risco de rebaixamento pela Fitch e outras agências de classificação de risco.

Assessoria Cidadão Alerta

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