Avaliação do Governo Lula atinge pior nível histórico

Gráfico da pesquisa Datafolha mostrando a avaliação do governo Lula.

A mais recente pesquisa Datafolha sobre a avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), divulgada em 14 de fevereiro de 2025, revelou um cenário crítico para o terceiro mandato do petista. Com apenas 24% de aprovação (classificação “ótimo” ou “bom”), o índice representa o pior desempenho registrado em todas as gestões de Lula na Presidência da República, incluindo os períodos de 2003-2006 e 2007-2010. A reprovação atingiu 41%, outro recorde negativo, enquanto 32% consideram o governo “regular” e 2% não souberam opinar. A queda de 11 pontos percentuais na aprovação em relação a dezembro de 2024 reflete uma erosão acelerada do apoio popular, especialmente entre grupos tradicionalmente alinhados à base petista, como eleitores do Nordeste, mulheres e pessoas com renda de até dois salários mínimos.

Análise detalhada dos resultados da pesquisa Datafolha

O Datafolha registrou uma redução de 11 pontos percentuais na avaliação positiva do governo Lula em apenas dois meses, passando de 35% em dezembro de 2024 para 24% em fevereiro de 2025. Esse movimento inverso à tendência histórica do petista, que costumava recuperar popularidade após crises, sugere uma desconexão entre as expectativas da população e as ações do governo. O índice de 41% de reprovação supera até mesmo os 34% registrados durante o auge do escândalo do mensalão, em 2005, quando Lula mantinha 28% de aprovação. A pesquisa, realizada em 113 municípios com 2.007 entrevistados, apontou ainda que a percepção de “governo regular” subiu de 29% para 32%, indicando que parte dos que antes aprovavam o Executivo migraram para uma posição neutra. A margem de erro de dois pontos percentuais confere robustez aos dados, que refletem um descontentamento generalizado.

Desmonte da base tradicional de apoio

A queda na aprovação foi particularmente acentuada entre grupos demográficos que historicamente sustentaram Lula. No Nordeste, região onde o petista obteve 69,34% dos votos em 2022, a avaliação positiva despencou de 49% para 33%. Entre eleitores com ensino fundamental completo, a taxa caiu 15 pontos (de 53% para 38%), e entre pessoas com renda de até dois salários mínimos, a redução foi de 15 pontos (de 44% para 29%). O recuo também foi significativo entre mulheres (de 38% para 24%), negros (de 44% para 29%) e pardos (de 36% para 23%). Esse movimento sinaliza uma ruptura em setores-chave da coalizão que levou Lula à vitória em 2022, potencializando desafios para a manutenção de alianças políticas e a disputa eleitoral de 2026.

Contexto histórico e comparações com mandatos anteriores

O pior desempenho em três décadas de carreira política

A aprovação de 24% é inferior aos 28% registrados em outubro de 2005, durante o mensalão, e aos 31% de Jair Bolsonaro (PL) no mesmo período de seu mandato. Embora Bolsonaro também enfrentasse reprovação de 40% em 2025 — patamar similar ao de Lula —, sua avaliação positiva era sete pontos percentuais maior. A diferença ressalta a singularidade da crise atual: pela primeira vez, Lula perde apoio maciço de sua base sem um escândalo de corrupção como pano de fundo.

A trajetória de queda no terceiro mandato

Desde o início do terceiro mandato, em 2023, a popularidade de Lula segue trajetória descendente. Em março de 2024, o Datafolha já apontava 35% de aprovação, patamar que se manteve em agosto e dezembro do mesmo ano antes do colapso recente. A estabilidade relativa no período anterior contrasta com a velocidade da queda atual, atribuída a uma combinação de fatores econômicos, crises de comunicação e desgaste com medidas impopulares.

Fatores determinantes para a erosão da popularidade

Pressões econômicas e inflação dos alimentos

A alta de 12,7% nos preços dos alimentos em 2024, segundo o IBGE, impactou diretamente a percepção sobre o governo, especialmente entre a população de baixa renda. Embora o desemprego esteja em 7,8% — o menor nível em uma década —, a deterioração do poder de compra minou a confiança nas políticas econômicas do Planalto. A pesquisa Genial/Quaest de janeiro de 2025 já havia alertado para o efeito da inflação na aprovação presidencial, prevendo a tendência confirmada pelo Datafolha.

Crise do Pix e falhas de comunicação

A tentativa da Receita Federal de monitorar transações acima de R$ 5 mil — incluindo operações via Pix — gerou uma onda de críticas em janeiro de 2025. A medida, interpretada como uma tentativa de taxar o Pix, foi revogada após protestos, mas o episódio danificou a imagem do governo. A demissão do ministro da Secom, Paulo Pimenta, e a nomeação do marqueteiro Sidônio Palmeira são cruciais para a capacidade de conter a narrativa negativa.

Percepção de estagnação em políticas sociais

Apesar do aumento do Bolsa Família para R$ 750 em 2024, a falta de avanços em reformas estruturais — como a tributária e a administrativa — alimentou a percepção de imobilismo. Para 46% dos eleitores que votaram em Lula em 2022, o governo passou de “ótimo/bom” para “regular”, indicando frustração com promessas não cumpridas.

Resposta do Governo e estratégias para reverter a crise

Discurso de Lula: 2025 como o “Ano da Verdade”

Em evento na Vale em Belém (PA), horas após a divulgação da pesquisa, Lula afirmou que 2025 será dedicado a “derrotar a mentira” e provar que seu governo é “melhor que os outros”. Sem mencionar os dados diretamente, o presidente criticou a disseminação de “fakenews” e prometeu intensificar a comunicação sobre conquistas como a geração de empregos e o crédito rural.

Reestruturação da comunicação oficial

A nomeação de Sidônio Palmeira — estrategista da campanha de 2022 — para a Secom visa repaginar a narrativa governamental. Entre as medidas planejadas estão: séries documentais sobre programas sociais em plataformas de streaming; campanhas publicitárias destacando a queda do desemprego; envolvimento direto de Lula em transmissões ao vivo para rebater críticas; e aposta em obras e parcerias com o setor privado. O anúncio de R$ 120 bilhões em investimentos da Vale em projetos de mineração sustentável no Pará reflete a estratégia de associar a imagem do governo a grandes iniciativas econômicas. O plano inclui ainda parcerias com estados e municípios para acelerar obras de infraestrutura, com foco em regiões críticas como o Nordeste.

Conclusão: Desafios e cenários para 2025-2026

A pesquisa Datafolha de fevereiro de 2025 consolida a pior crise de popularidade de Lula em três décadas de vida pública. Diferentemente de turbulências anteriores, a erosão atual decorre de múltiplas frentes: econômicas, de comunicação e de gestão. Para reverter o quadro, o governo precisará: conter a inflação de alimentos por meio de políticas agrícolas e estoques reguladores; recuperar a conexão com a base eleitoral mediante avanços em reformas sociais; e aprimorar a comunicação para traduzir indicadores macroeconômicos em percepção de melhoria concreta. A capacidade de Lula de articular o Congresso para aprovar reformas e a eficácia da nova estratégia de comunicação serão determinantes. Com as eleições de 2026 no horizonte, o próximo ano definirá se o petista conseguirá resgatar sua imagem ou se consolidará como um presidente enfraquecido em seu último mandato.

Da Redação

Referências